
O Cerrado, frequentemente chamado de “savana brasileira”, é o segundo maior bioma do Brasil, abrangendo cerca de 22% do território nacional. Mais do que uma simples paisagem de arbustos retorcidos, o Cerrado é um Hotspot de Biodiversidade global, conforme declarado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Essa riqueza, contudo, está sob intensa ameaça. A Embrapa aponta que, entre os mamíferos, o Cerrado abriga cerca de 199 espécies, com pelo menos 19 delas sendo endêmicas (exclusivas do bioma) e 21 ameaçadas de extinção.
A fauna do Cerrado desenvolveu adaptações notáveis para sobreviver ao clima quente, à intensa radiação solar e às queimadas periódicas, resultando em um conjunto impressionante de conjunto impressionante de animais do Cerrado que você conhecerá em detalhes.
Os Grandes Símbolos e Mamíferos em Destaque
O grupo dos mamíferos inclui os mais emblemáticos e ameaçados animais do Cerrado. Sua sobrevivência está diretamente ligada à conservação das matas de galeria e das áreas de campo.

1. Lobo-Guará (Chrysocyon brachyurus)
O maior canídeo da América do Sul, o Lobo-Guará é o símbolo do Cerrado. Sua coloração avermelhada, orelhas grandes e patas longas o tornam inconfundível. Ele é um animal solitário e onívoro, crucial para o ecossistema. O Pró-Carnívoros destaca a importância da lobeira (Solanum lycocarpum), um fruto que compõe grande parte de sua dieta. Ao consumir a fruta, o lobo-guará atua como um eficiente dispersor de sementes, auxiliando na regeneração de espécies vegetais do Cerrado. O declínio de suas populações o coloca como “Quase Ameaçado” de extinção.

2. Tamanduá-Bandeira (Myrmecophaga tridactyla)
Um dos animais do Cerrado mais reconhecíveis. Com sua cauda longa e peluda (que usa como cobertor) e focinho comprido, é um predador especializado em formigas e cupins (mirmecófago). Suas garras fortes são usadas para abrir os duros cupinzeiros. O Tamanduá-Bandeira tem hábitos solitários e é classificado como “Vulnerável” à extinção, principalmente devido aos atropelamentos e à perda de habitat.

3. Tatu-Canastra (Priodontes maximus)
O maior tatu do mundo . Conhecido como tatu-gigante, pode medir até 1,5 metro de comprimento e pesar 60 kg. Suas garras dianteiras são incrivelmente fortes e são usadas para escavar túneis e tocas profundas onde ele passa a maior parte do dia. O Tatu-Canastra é um animal raro e está classificado como “Vulnerável”, sendo um dos animais mais importantes para o solo do Cerrado, pois suas escavações criam abrigos para muitas outras espécies.

4. Onça-Pintada (Panthera onca)
Maior felino das Américas, a Onça-Pintada é um predador de topo no Cerrado, preferindo habitats mais preservados, próximos a rios (matas de galeria), onde há maior concentração de presas. Ela é uma espécie-chave cuja presença indica a saúde do ecossistema. Infelizmente, a onça-pintada é um dos animais do Cerrado ameaçados de extinção devido à caça ilegal e ao conflito com fazendeiros.

5. Anta (Tapirus terrestris)
A Anta é o maior mamífero terrestre da América do Sul e uma das grandes jardineiras do Cerrado. Sua dieta herbívora e a capacidade de percorrer grandes distâncias fazem dela uma excelente dispersora de sementes. Assim como a onça-pintada, é uma espécie com grande risco de extinção.

6. Veado-Campeiro (Ozotoceros bezoarticus)
Um veado de porte médio, reconhecível por sua pelagem parda e chifres finos. Prefere os campos abertos e é um dos animais que vive em pequenos grupos, alimentando-se de folhas e flores.

7. Jaguatirica (Leopardus pardalis)
Um felino de médio porte, menor que a onça-pintada e com hábitos noturnos. Embora não seja endêmica, a Jaguatirica tem grande presença na savana e, por ser uma predadora versátil, regula populações de roedores e aves. Está classificada como “Quase Ameaçada”.

8. Cachorro-do-Mato-Vinagre (Speothos venaticus)
Um carnívoro raro de pequeno porte e pernas curtas. Diferente da maioria dos canídeos, caça em grupos e possui uma dieta exclusivamente carnívora, sendo um dos animais do Cerrado que mais utiliza a cooperação social para obter alimento.

9. Queixada (Tayassu pecari)
Um porco-selvagem encontrado em grandes bandos. A Queixada é onívora e possui um papel crucial na revolução do solo ao procurar por raízes e pequenos invertebrados.

10. Macaco-Prego (Sapajus libidinosus)
Primata conhecido por sua alta inteligência e pelo uso de ferramentas. Eles utilizam pedras para quebrar nozes e frutos duros do Cerrado, demonstrando uma notável adaptabilidade cognitiva.
Aves: As Joias Aladas do Cerrado
O Cerrado é vital para a avifauna brasileira, sendo um corredor de espécies e lar de muitas aves endêmicas e raras, muitas delas listadas no Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves do Cerrado e Pantanal (PAN Aves do Cerrado e Pantanal) do ICMBio.

11. Tucanuçu (Ramphastos toco)
O maior tucano do mundo, o Tucanuçu é uma figura carismática. Seu bico maciço e colorido, que pode medir até 22 cm, é notável não só para apanhar frutas, mas também para regular a temperatura corporal (termorregulação), uma adaptação essencial ao clima do Cerrado.

12. Arara-Azul (Anodorhynchus hyacinthinus)
Embora mais famosa no Pantanal, a Arara-Azul habita as matas de galeria e palmeirais de alguns trechos do Cerrado. Seu bico poderoso é capaz de quebrar as duras sementes de palmeiras, como o Açaí, Buriti e Babaçu. É classificada como “Vulnerável”.

13. Seriema (Cariama cristata)
Uma ave de médio porte, territorial e que prefere correr a voar. É conhecida por seu canto alto e estridente (como um grito ou rugido) e por se alimentar de insetos e pequenos vertebrados, incluindo cobras.

14. Pato-Mergulhão (Mergus octosetaceus)
Uma das aves mais raras e ameaçadas do Cerrado, classificada como “Criticamente em Perigo” (CR). Sua presença indica a saúde dos rios e córregos, pois é um predador piscívoro que requer águas limpas e rápidas.

15. Rolinha-do-Planalto (Columbina cyanopis)
Considerada uma das joias raras do bioma e classificada como “Criticamente em Perigo” (CR). Foi redescoberta em 2015 após décadas sem avistamentos, e só é encontrada em uma pequena área de Cerrado Rupestre no Norte de Minas.

16. Galito (Alectrurus tricolor)
Uma ave pequena e esguia, classificada como “Vulnerável” (VU). Habita campos abertos e áreas de brejo no Cerrado, sendo reconhecida por sua cauda longa e bifurcada.
Répteis, Anfíbios e Peixes: O Mundo das Águas e do Fogo
A hidrografia do Cerrado (que abriga nascentes de importantes bacias brasileiras) e a resistência de seus répteis e anfíbios são cruciais para o ecossistema. O Cerrado possui cerca de 177 espécies de répteis, sendo o grupo das serpentes o mais diversificado.

17. Cobra-Cipó (Chironius spp.)
Um grupo de serpentes não peçonhentas, longas e finas, com grande presença nas matas de galeria e cerrados mais fechados. São predadoras ativas, com um importante papel no controle de roedores e anfíbios.

18. Cascavel (Crotalus durissus)
Uma das cobras peçonhentas mais emblemáticas do Brasil, presente em áreas de campo e savana. É facilmente identificada pelo chocalho na ponta da cauda, usado como aviso.

19. Traíra (Hoplias spp.)
Um peixe carnívoro de água doce, encontrado em praticamente todos os biomas brasileiros, incluindo os rios, lagos e brejos do Cerrado. Sua adaptabilidade e resiliência a condições de água de baixa qualidade a tornam um predador aquático dominante.

20. Sapo-Cururu (Rhinella spp.)
Um dos maiores sapos do Brasil, com glândulas de veneno (parotoides) que o protegem de predadores. É noturno e ajuda a controlar as populações de insetos, sendo um dos anfíbios mais comuns e importantes dos animais do Cerrado.
Conservação: A Urgência da Savana Brasileira
O Cerrado tem enfrentado um desmatamento intenso, impulsionado pela expansão do agronegócio e da pecuária. O bioma foi declarado um Hotspot de Biodiversidade pela sua alta taxa de endemismo e pela velocidade alarmante de sua destruição. Ameaças como a perda de habitat, os incêndios incontrolados e os atropelamentos de fauna, especialmente de mamíferos como o Lobo-Guará, colocam em risco de extinção pelo menos 130 espécies de animais do Cerrado. Proteger o Cerrado é proteger uma vasta porção da biodiversidade única do planeta.
FAQ – Perguntas e Respostas Frequentes
O que é o endemismo e por que ele é crucial para os animais do Cerrado?
Endemismo é a qualidade de uma espécie ser encontrada exclusivamente em uma determinada área geográfica. É crucial para o Cerrado porque significa que se o bioma for destruído, as espécies endêmicas (como a rolinha-do-planalto e muitas espécies de roedores) serão extintas globalmente, pois não existem em nenhum outro lugar do planeta.
Qual é a principal função do Lobo-Guará no ecossistema do Cerrado?
A principal função ecológica do Lobo-Guará é a dispersão de sementes. Sua dieta onívora, que inclui o fruto da lobeira, faz com que ele transporte as sementes digeridas e viáveis para novos locais, ajudando na regeneração e manutenção da flora do Cerrado.
Quais são os dois maiores felinos encontrados no Cerrado?
Os dois maiores felinos presentes no Cerrado são a Onça-Pintada (Panthera onca), o maior felino das Américas, e a Suçuarana (ou onça-parda, Puma concolor), que é o segundo maior.
Como os animais do Cerrado se adaptam às queimadas naturais?
Os animais do Cerrado desenvolveram várias adaptações. Muitos mamíferos, como o Tamanduá-Bandeira e o Tatu-Canastra, têm capacidade de cavar tocas profundas para se abrigar do calor e do fogo. Outros, como o lobo-guará, têm hábitos crepusculares ou noturnos para evitar o calor intenso do dia.
O que significa o status de “Hotspot de Biodiversidade” para o Cerrado?
Ser um Hotspot de Biodiversidade significa que o Cerrado é uma região com altíssima concentração de espécies endêmicas (exclusivas) e, ao mesmo tempo, possui um nível alarmante de degradação e perda de habitat. A designação exige prioridade máxima em esforços globais de conservação.